Seu Jorge confirma ataques racistas e diz ter presenciado ódio gratuito em show

Seu Jorge confirma ataques racistas e fala de ódio gratuito
(Imagem: Reprodução/YouTube)

O cantor Seu Jorge falou, pela primeira vez, na noite desta segunda-feira (17), sobre os ataques racistas que sofreu durante um show em Porto Alegre, na semana passada. Em vídeo de nove minutos nas redes sociais, no qual a bandeira do Rio Grande do Sul compõe o cenário, o artista confirmou ter ouvido xingamentos e ofensas racistas.

Não era a cidade que eu reconheci a cidade que eu comecei a amar e respeitar. Não era a cidade que eu conhecia”, disse no vídeo

A apresentação ocorreu no clube Grêmio Náutico União, no Bairro Petrópolis, na última sexta-feira (14), em um evento para a reinauguração de um dos salões, recentemente reformado. Havia sócios e não sócios presentes, e os ingressos custavam entre R$450 e R$ 650, com direito a um jantar.

Nas imagens, o artista também relata não ter percebido pessoas negras entre o público presente, e afirma ter presenciado ódio gratuito.

“O que eu presenciei foi muito ódio gratuito, e muita grosseria racista”, afirmou.

Apesar dos ataques, Seu Jorge falou, também, em união do povo negro. O artista ressaltou referências no Rio Grande do Sul, como Elis Regina, lembrou do churrasco, do chimarrão, e defendeu políticas publicas de combate ao racismo. 

“Ao povo negro do Rio Grande do Sul e de toda a região do Sul, quero dizer que amo todos vocês, e admiro, respeito. E digo também que estamos mais unidos do que nunca e que vamos vencer essa guerra que segrega o nosso povo à miséria e à falta de oportunidade no Brasil”, finalizou.

Assista ao vídeo

Investigação

Ainda na segunda-feira, a Polícia Civil decidiu investigar o caso. O inquérito foi aberto pela Delegacia de Combate à Intolerância da Capital. Ao Portal G1, a delegada responsável pelo caso, Andréa Mattos, afirmou que a decisão de investigar, veio após a repercussão nas redes sociais e, também, pelas denúncias recebidas diretamente pela polícia.

Conforme a delegada, as imagens do show, que já estão com a polícia, serão importantes para compreender como tudo aconteceu.

“Daí sim teremos condições de começar a identificar as pessoas. Chamaremos algumas testemunhas para que nos auxiliem na identificação”, afirmou.

Ainda, segundo Mattos, apenas com a investigação será possível afirmar se o caso será tratado como racismo ou injúria racial.

Entenda

Durante o final de semana, relatos de xingamentos racistas contra o cantor Seu Jorge, durante a apresentação no clube, se multiplicaram pelas redes sociais, e deram visibilidade ao caso.

Uma empresária que estava no show, relatou à Rádio Gaúcha, que as manifestações começaram quando o cantor chamou ao palco Pedrinho da Serrinha, considerado um talento na prática do cavaquinho. Ao receber o adolescente de 15 anos, Seu Jorge falou sobre as dificuldades de ser negro no Brasil e mencionou a questão da maioridade penal. Segundo a mulher, de 50 anos, não houve defesa a nenhum candidato politico.

O Portal Uol afirma que testemunhas ouviram, ainda, o artista sendo chamado de “safado” e “vagabundo” , além de sons de macaco. Um advogado disse, à reportagem de GZH, ter visto o cantor fazer um gesto, interpretado por alguns presentes como uma referência ao candidato Lula. Essas pessoas teriam respondido com gritos pró-bolsonaro.

O Grêmio Náutico União divulgou uma nota, no domingo (16), afirmando que os fatos seriam apurados internamente, e que repudia qualquer tipo de discriminação. O texto é assinado por Paulo José Kolberg Bing, presidente do clube.