Rodrigo Bauer vence 8º edição da Tertúlia Maçônica da Poesia Crioula com poema “De passagem”

Foto: Divulgação/Douglas Salgueiro

Em uma composição que explora o desprendimento em relação ao materialismo e questiona as aspirações humanas, o escritor Rodrigo Bauer, originário de São Borja, na região da Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, conquistou o primeiro lugar na 8ª edição da Tertúlia Maçônica da Poesia Crioula, evento que ocorreu em Porto Alegre em 21 de outubro.

Seu poema, intitulado “De passagem” e interpretado por Pedro Júnior da Fontoura, destacou-se na categoria “não maçônica”.

Na obra, magistralmente construída, Bauer expressa seu desejo de que, na vida após a morte, seu coração esteja livre de “mágoas e rancores” e que seus pulmões estejam repletos de “muita brisa” e “um pouco de tornado”. Nos versos subsequentes, o poeta advoga pela doação de seus órgãos.

“É o meu jeito de avisar a minha família e de chamar a atenção da sociedade sobre a doação de órgãos”, disse

Leia o poema

De passagem

Pelo campo e a paisagem,
por tantas outras paragens
eu estarei, de passagem,
sem me apegar, pois, se, então
nada se leva da vida,
(nada, depois da partida)
essa ambição desmedida
não tem nenhuma razão!

Porém, eu faço questão
que esses meus olhos de enxergar distâncias,
ao se fecharem, mesmo em desalinho,
guardem a luz de todos os caminhos
que me trouxeram desde a tenra infância;

que o coração, guerreiro sem escudo,
ao silenciar, de vez, os seus tambores
já não carregue mágoas e rancores,
somente Amor e Gratidão por tudo;

que os meus pulmões levem, à terra fria,
algo do ar que o tempo tem soprado:
muito de brisa, um pouco de tornado
– a inspiração da própria poesia;

que os rins, enfim, a merecer descanso,
filtrando extremas gotas de vazio,
tenham o sal do mar e algo dos rios
para lembrar procelas e remansos;

e tenha o fígado, nalgum momento,
(o velho mártir de uma vida impura)
uma homenagem por sua bravura
e não lhe falte o reconhecimento!

Que a terra me seja leve!
Sabendo que a vida é breve
nem o mais touro se atreve
a desdenhar da paixão…

Deixarei tudo o que posso,
a pele, o cabelo, os ossos…
No fim, nada disso é nosso,
nem cabe um usucapião!

Porém eu faço questão
que, após a morte e seu punhal de espanto
seja doado tudo o que é preciso
para que a luz trigueira de um sorriso
triunfe sobre a escuridão do pranto!

Assim, meus olhos se abrirão de novo…
Meu coração retomará o compasso!
Mesmo a serviço de outros novos braços,
mesmo no seio de algum outro povo!

O doador deve avisar os seus…
Ele é, de fato, um ser reconhecido!
Sabe, da vida, o seu real sentido…
E é muito próximo do Próprio DEUS!

Rodrigo Bauer