Após carta aberta, direção do Brasil de Pelotas afirma não ter recursos para pagar ex-funcionários

Foto: Divulgação/GEB

No último sábado (31), ex-funcionários do Brasil, equipe da cidade de Pelotas, divulgaram uma carta aberta cobrando a diretoria sobre pagamento de dívidas. Segundo a carta, os colaboradores, demitidos em novembro, não receberam salários atrasados, férias, décimo terceiro proporcional, rescisão de contrato, fundo de garantia em atraso e rescisório. Eles alegam ainda que a diretoria do clube não quer diálogo quanto ao assunto.

Ontem, em entrevista ao Diário Popular, o diretor de marketing do clube, Tiago Rezende, justificou a demora para quitar as obrigações à falta de recursos e citou o acúmulo de dívidas e a baixa nas vendas de camisetas promocionais. 

Por outro lado, Rezende afirmou que a prioridade do clube segue um ranking: pagamento de comissão técnica e jogadores, seguido por funcionários e, por último, os deveres com os colaboradores demitidos.

Tu viu?

Velório de Pelé inicia nesta segunda; veja movimentação na Vila Belmiro

Entenda

A demissão de sete funcionários aconteceu entre os dias 7 e 21 de novembro do ano passado, cerca de um mês após a posse da nova diretoria composta por Evânio Tavares, Ricardo Fonseca, Julio Sanabria e José Argoud. Os departamentos de futebol, administrativo, comunicação e categoria de base foram os alvos. A lista inclui funcionários que já somavam 14 anos de casa.

Parte da carta aberta cita que nos dois últimos anos o atraso de pagamento por parte do clube era frequente. “Os colaboradores dispensados nunca deixaram de cumprir suas obrigações. Muito pelo contrário, pois nos últimos dois anos sempre trabalharam com salários atrasados e jamais deixaram que isso comprometesse o andamento das tarefas e da instituição”, afirma. 

Ainda seguindo o comunicado, os motivos que levaram os ex-funcionários a tornarem público o assunto é que, além das obrigações financeiras não serem cumpridas, a direção não presta esclarecimentos ou tentativas de acordo com estes, afirmando que aqueles foram até o estádio não foram atendidos. Segundo eles, a promessa era que até o final de 2022 tudo seria resolvido, o que não aconteceu. 

Em resposta a um dos ex-funcionário, através das redes sociais, Hélio Vieira, gerente de futebol Xavante até junho do ano passado, prestou solidariedade e criticou o tratamento com os funcionários. “O dia-a-dia apresentava ações de desrespeito e falta de compromisso com os colaboradores que eram fundamentais para que o clube andasse. Presenciei fatos lamentáveis, de desespero vivenciados por vários funcionários. Este foi um dos motivos da minha saída”, escreveu. 

Dívidas

Em entrevista ao mesmo jornal, em setembro de 2022, o presidente Evânio Tavares relevou que a dívida do clube estava em cerca de R$27 milhões. 

O último balanço do exercício fiscal publicado no Portal da Transparência, no site oficial do clube, é de 2021. As informações apontam que o Brasil iniciou o ano devendo R$13 milhões e terminou com a dívida em R$17 milhões, ou seja, um aumento de R$4 milhões. 

O rombo nos cofres do clube são maiores 2022 por conta da queda na arrecadações de transmissões, isto porque em 2021 o Xavante ainda disputava a Série B do Campeonato Brasileiro, já em 2022, com a queda para a Série C estas foram interrompidas.

Consequências

A primeira consequência da dívida crescente do Brasil já atinge as categorias de base do clube, que deverão ter suas atividades paralisadas em 2023, seis anos após sua reativação. 

Em novembro, durante a apresentação do elenco para o Gauchão deste ano, o presidente Xavante confirmou que as dificuldades financeiras e estruturais estão sendo levadas em consideração. 

Uma esperança para que o departamento siga em funcionamento é a viabilização do auxílio da Lei de Incentivo ao Esporte (LIE), vinculada ao Pró-Esporte do governo estadual, como aconteceu em 2021 com a equipe sub-17 Evânio afirmou que a direção tem buscado contato com o Governo do Estado, mas o futuro é incerto.

Confira a carta aberta na íntegra 

Entre os dias 7 e 21 de novembro, nove funcionários do Grêmio Esportivo Brasil foram demitidos. Funcionários de vários departamentos do clube – futebol, categorias de base, administrativo e comunicação –, e dos mais diversos períodos de trabalho – de um até catorze anos. 

Os colaboradores dispensados nunca deixaram de cumprir suas obrigações. Muito pelo contrário, pois nos últimos dois anos sempre trabalharam com salários atrasados e jamais deixaram que isso comprometesse o andamento das tarefas e da instituição. 

O motivo que levou os mesmos a tornarem público esta situação é que até o momento nenhuma obrigação por direito foi cumprida pelo clube. A direção tampouco chamou os ex-funcionários para esclarecimentos e/ou tentativa de acordo, e aqueles que foram até o estádio não foram atendidos. A promessa repassada pelo mandatário e diretores foi que até o final do ano tudo seria resolvido. Essa carta é um apelo público para que resolvam essa situação. 

Três salários atrasados, férias, décimo terceiro proporcional, rescisão de contrato, fundo de garantia atrasado e fundo de garantia rescisório são os valores que estão pendentes de todos os dispensados, e nada foi pago até agora. Já são quase dois meses. 

Lembramos que final de ano é um período que despende maiores quantias para todos – contas, impostos, Natal, Ano Novo etc – e qualquer reserva feita não acompanha o ritmo nem dura para sempre. 

Todos são sabedores das dificuldades que o clube vem passando, e em momento algum, a intenção foi de prejudicar o planejamento da agremiação. Mas trabalhadores têm direitos. E esses direitos não foram cumpridos. Um Brasil de Todos precisa ser de todos mesmo: da torcida, dos jogadores, dos funcionários e de quem já deixou o clube e merece respeito.