Foto: GAECO
Foram deflagradas, na manhã desta sexta-feira (22), as operações Caixa-Forte II e El Patron em cidades do Sul do Brasil visando desarticular um esquema comandado por uma facção criminosa a partir do interior do Presídio Regional de Pelotas (PRF). Interligadas, uma apura a venda de drogas e ingresso de materiais ilícitos para o interior da penitenciária, inclusive com a participação de um policial penal. Já a outra investiga um esquema de microcrédito com juros de até 280% e métodos de cobrança nos moldes de uma organização criminosa. São mais de 100 pessoas investigadas, entre elas, 27 detentos, e 10 empresas.
As operações e investigações são coordenadas pelo promotor de Justiça Rogério Meirelles Caldas, do 10° Núcleo do GAECO/Sul. Segundo ele, “o lucro obtido com o tráfico era usado para capitalizar a agiotagem e também para lavagem de capitais, assim como o dinheiro da lavagem e da agiotagem era utilizado para fomentar a venda de drogas. Tudo era retroalimentado pela organização criminosa”.
Operação Caixa Forte ll
Uma organização criminosa, que montou um centro operacional no PRP para ingressar no local com materiais ilícitos, principalmente celulares, e vender drogas também para toda a região, já havia sido alvo do GAECO em dezembro do ano passado. Na Operação Caixa-Forte I , foram apreendidos celulares, drogas, dinheiro e muitos documentos. Com a análise dos materiais, como livros-caixa, foi desencadeada a parte II desta. O promotor Rogério Caldas identificou a estrutura hierárquica do grupo, com núcleos que vão da gerência às finanças, envolvendo diversos laranjas.
Ele também descobriu que, em dez meses do ano passado, a facção movimentou R$ 2,6 milhões somente com o tráfico e ingresso de celulares no presídio. Além disso, no PRP, os criminosos contavam com a participação de um policial penal que colaborava com a facção.
O servidor é um dos alvos da operação e foi preso nesta sexta. Houve uma revista no presídio e oito líderes da organização criminosa foram removidos, sendo sete com prisão decretada pelos crimes investigados nesta operação. Também houve revistas, devido à participação de outros detentos, na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (PASC) e Presídio Regional de Bagé.
Operação El Patron
Devido à grande movimentação financeira, foi necessário criar uma segunda operação para apurar agiotagem e lavagem de capitais: a El Patron. Segundo o promotor Rogério Caldas, a facção também se envolvia com jogos de azar e rifas.
Sobre a agiotagem, ele destaca que a organização criminosa utiliza um aplicativo para realizar operações de microcrédito. Por meio de laranjas, o grupo realiza empréstimos com anúncios nas redes sociais e age como se utilizasse empresas especializadas ou idôneas. No entanto, foram comprovados juros na casa dos 50% a 280%. As cobranças eram feitas por meio de métodos usados no crime, ou seja, devedores eram ameaçados e sofriam outros tipos de sanções mais graves por parte dos integrantes da facção.
A maior parte dos mais de R$ 32 milhões movimentados era com empréstimos, jogos de azar, rifas e também lavagem de dinheiro. Sobre esta questão, foi autorizada pela Justiça a busca e apreensão de 28 veículos e de quatro imóveis em Pelotas. Outra forma de lavagem era por meio da aquisição ou investimentos em empresas. São 10 ao todo: açougues, frigorífico e uma imobiliária no Rio Grande do Sul e mais duas imobiliárias em Santa Catarina. Por fim, também havia lavagem de capitais por meio de depósitos em 1,3 mil contas bancárias em nome de laranjas.
Ao todo, foram cumpridos 19 mandados de prisão preventiva, 156 mandados de busca e apreensão, além da remoção de oito apenados do PRP e bloqueio de 1,3 mil contas bancárias. No Rio Grande do Sul, são 152 mandados de busca e 18 prisões, em Santa Catarina são dois mandados de busca e no Paraná dois mandados de busca e uma prisão, a do líder da facção gaúcha investigada pelo GAECO. Os crimes apurados são de organização criminosa, lavagem de capitais, tráfico de drogas, corrupção ativa e passiva.