Foto: Reprodução/Instagram
O escritor Jeferson Tenório compartilhou em suas redes sociais, na terça-feira (2), uma experiência perturbadora de ter sido alvo de uma abordagem policial enquanto realizava uma sessão de fotos para o jornal The New York Times no Parque da Redenção, em Porto Alegre.
Tenório, que estava sendo fotografado para uma matéria sobre seu livro “O Avesso da Pele”, foi abordado por policiais sob a justificativa de que ele correspondia à descrição de um suposto traficante ativo na área.
“O Avesso da Pele” é uma obra que aborda, entre outros temas, as abordagens policiais discriminatórias baseadas em perfil racial. Durante o incidente, que Tenório descreveu como sua 16ª experiência pessoal de abordagem policial, ele e o fotógrafo foram subitamente confrontados por policiais armados que realizaram uma revista invasiva.
O escritor relata que as instruções e justificativas durante o incidente foram direcionadas exclusivamente ao fotógrafo, um homem branco, enquanto ele, um homem negro, foi marginalizado durante a interação. “Mandaram baixar as mãos lentamente, a partir desse momento todas as explicações da abordagem foram dadas para o fotógrafo, que era um homem branco. Fui ignorado como se não merecesse a explicação“, contou Tenório.
Os oficiais argumentaram que a abordagem foi motivada por uma denúncia que descrevia suspeitos com características semelhantes às deles. Após a verificação, eles foram liberados, mas o incidente deixou uma marca profunda em Tenório, reforçando as críticas à violência policial que são um tema central em seu livro.
Confira a íntegra do desabafo do escritor:
No dia 25 de março deste ano sofri minha 16° abordagem policial. Refleti muito se deveria expor mais este caso, pois sempre existe um desgaste emocional e pessoal.
A abordagem ocorreu em Porto Alegre, por volta das 17h. Na ocasião, eu estava recebendo um fotógrafo do The New York Times em minha casa para uma sessão de fotos para uma matéria sobre meu livro “O Avesso da Pele”.
Em dado momento o fotógrafo achou que seria bom fazer umas fotos ao ar livre. Foi quando sugeri o Parque da Redenção.
Ao chegarmos, o fotógrafo lembrou que no parque havia uma imagem que lembrava um símbolo nazista, e que no ano passado ele havia feito uma matéria sobre esse símbolos no Brasil. Eu disse que não conhecia essa imagem. Ele perguntou se eu queria ver antes de tiramos as fotos. Aceitei.
Quando chegamos próximo do símbolo, vi a imagem que de fato lembrava uma suástica. Foi nesse momento que uma viatura da Brigada Militar parou atrás de nós. Os polícias saíram apontando as armas com frases de mão na cabeça.
Sob a mira da arma, fomos revistados. Neste momento comecei a suar frio e fiz um esforço para manter minhas mãos na cabeça, fiquei nervoso pois todas as imagens de violência policial que tanto critico, estava novamente acontecendo comigo.
Mandaram baixar as mãos lentamente, a partir desse momento todas as explicações da abordagem foram dadas para o fotógrafo, que era um homem branco. Fui ignorado como se não merecesse a explicação.
Disseram que fomos abordados porque receberam uma denúncia de que havia um traficante com as nossas características (?) Perguntaram apenas para o fotógrafo se ele já tinha sido abordado naquele parque, ele disse que não. Foi quando o policial respondeu que a abordagem servia para proteger o cidadão de bem. E, se gente não devia nada, íamos ser liberados.
Depois entraram no carro e foram embora.
Ficou claro, na avaliação da policia, que eu seria um traficante e o fotógrafo o usuário.
Toda a abordagem aconteceu na frente do suposto símbolo nazista. Tudo tão inacreditável. Tão triste, eu estava tirando fotos para uma reportagem sobre meu livro que, entre outras coisas, é sobre a violência policial. E é nesse momento que sou abordado.