Reprodução/RBSTV
O Ministério Público do Rio Grande do Sul apresentou uma denúncia contra seis indivíduos acusados de tortura e extorsão contra dois homens suspeitos de furtar picanha do supermercado Unisuper, localizado em Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre. O incidente ocorreu no dia 12 de outubro do ano passado, resultando em graves ferimentos em uma das vítimas.
Os denunciados incluem os policiais militares Gustavo Henrique Inácio Sousa Dias e Romei Ribeiro Borges Neto, os seguranças Alex Ned de Lazeri da Silva e Ernesto Simão de Paula, o ex-gerente Adriano Luginski Dias e o ex sub-gerente Jairo Estevan da Veiga. O Ministério Público os acusa de dois crimes: tortura, pelas agressões cometidas, e extorsão, por coagirem as vítimas a efetuarem um pagamento para serem libertadas.
Um dos policiais envolvidos nas agressões, Gilmar Rodrigues Cardoso, faleceu em março deste ano.
As defesas dos acusados afirmaram que irão se manifestar apenas em juízo. O supermercado emitiu uma nota, reafirmando seu compromisso com o respeito à vida e à dignidade humana, além de sua disposição para colaborar plenamente com as autoridades.
A denúncia foi divulgada pela RBSTV e foi concluída na última sexta-feira (9), quase seis meses após o indiciamento. O parecer foi encaminhado ao Judiciário, que realizará a análise. Se a denúncia for aceita, os suspeitos se tornarão réus e responderão judicialmente pelos crimes.
“Atos de tortura física e psicológica”
“A tortura foi caracterizada e as imagens falam muito em si pela maneira que o sofrimento foi infringido às vítimas, pela forma com que os fatos aconteceram também pelas lesões que foram causadas por isso”, afirma o promotor Maurício Trevizan, responsável pela denúncia.
Segundo o Ministério Público, os acusados cometeram atos de tortura física e mental contra as vítimas, na época com 32 e 47 anos. De acordo com o MP, eles utilizaram violência e ameaças graves para obter a confissão do furto da carne e causaram constrangimento às vítimas.
As agressões só cessaram quando perceberam que um dos homens poderia morrer no local, devido à intensa hemorragia, conforme descrito na denúncia. O Ministério Público também aponta que os acusados agiram com sadismo, gargalhando e posando juntos para uma foto comemorativa.
Acusação de racismo não incluída
O promotor Maurício Trevizan optou por não incluir na denúncia as alegações de uma das vítimas de tortura de que teria sido vítima de racismo.
Segundo o relato da vítima à polícia, ele foi chamado de “negão chinelo” e ouviu comentários discriminatórios enquanto era conduzido pelos seguranças.
Na denúncia, o promotor menciona que o inquérito policial não identificou a autoria desse crime em particular.
Relembrando o caso
O incidente ocorreu em 12 de outubro em um supermercado da rede Unisuper, em Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre. Segundo a polícia, os dois homens que foram torturados teriam furtado dois pacotes de picanha, avaliados em R$ 100 cada, e foram flagrados pela equipe de segurança do estabelecimento. Após o flagrante, a dupla foi submetida a uma sessão de tortura, sofrendo agressões durante 45 minutos.
As vítimas são dois homens, sendo um negro e outro de pele branca.
A polícia tomou conhecimento do caso somente quando um dos agredidos procurou o Hospital de Pronto Socorro (HPS) de Porto Alegre com ferimentos graves, apresentando várias fraturas no rosto e na cabeça.
Segundo a polícia, 31 câmeras de segurança registraram o ocorrido dentro do supermercado e no depósito onde as vítimas foram agredidas. Após a denúncia, os policiais foram ao local para coletar as imagens, mas descobriram que os arquivos haviam sido deletados assim que os agentes chegaram.
O delegado Robertho Peternelli, responsável pelo caso, apreendeu o equipamento de gravação, que foi encaminhado para perícia. O perito criminal Marcio Faccin, do Instituto Geral de Perícia (IGP) do estado, conseguiu recuperar os arquivos. Todos os envolvidos foram indiciados pela Polícia Civil.