Nova espécie de réptil pré-histórico é descoberta no RS

Arte: Matheus F. Gadelha/UFRGS

Foi publicada nesta sexta-feira (30), na revista Scientific Reports (Grupo Nature), uma nova pesquisa liderada pelo paleontólogo Voltaire Paes Neto, da UFRGS e do Museu Nacional, que revela a descoberta de uma nova espécie de silessauro no Rio Grande do Sul. O fóssil, nomeado Itaguyra occulta, viveu há cerca de 237 milhões de anos e reforça o papel central da região sul do Brasil nos estudos sobre a origem dos dinossauros.

A espécie foi identificada a partir de dois ossos da cintura — um ílio e um ísquio — encontrados em camadas do Triássico Médio, um intervalo de tempo ainda pouco conhecido pela paleontologia. A análise mostrou que se trata de um membro do grupo dos silessaurídeos, répteis que viveram antes dos dinossauros e compartilhavam algumas de suas características.

Segundo o professor Heitor Francischini, da UFRGS e coautor do estudo, a descoberta contribui para ampliar o entendimento da biodiversidade do passado no RS:

“É mais um tijolo na construção do panorama da fauna, do ambiente e do clima de aproximadamente 235 milhões de anos atrás”, afirmou.

O nome Itaguyra occulta tem origem nas palavras “Ita” (pedra) e “guyra” (ave) em tupi, e “occulta” (oculto, em latim), fazendo referência ao fato de o fóssil ter sido redescoberto entre restos de outros animais.

O fóssil está em exposição no Museu Municipal Aristides Carlos Rodrigues, em Candelária (RS), que abriga importantes peças da paleontologia gaúcha e integra o projeto Geoparque Vale do Rio Pardo.

O que são silessauros?

Os silessauros eram répteis geralmente pequenos, com cerca de 1 metro de comprimento. Tinham bico na mandíbula, membros longos e hábitos alimentares variados, sendo em grande parte insetívoros, embora existam registros de espécies herbívoras. Eram comuns no final do período Triássico em diversas partes do mundo.

No Brasil, seus fósseis ocorrem apenas no Rio Grande do Sul, com registros anteriores como Gamatavus antiquus, de Dilermando de Aguiar, e Gondwanax paraisensis, de Paraíso do Sul, ambos em rochas do Triássico Médio. Em camadas mais recentes, do Triássico Superior, estão espécies como Amanasaurus nesbitti (Restinga Sêca) e Sacisaurus agudoensis (Agudo), já próximos dos dinossauros saurísquios.

A descoberta do Itaguyra occulta preenche uma lacuna importante entre esses períodos e fortalece a posição do Brasil como um dos principais polos mundiais no estudo da evolução dos dinossauros. O estudo contou com participação de pesquisadores da UFRGS, Museu Nacional (UFRJ), UFSM (CAPPA/Quarta Colônia), Unipampa, Museo Argentino de Ciencias Naturales, com apoio da Faperj e do projeto INCT-Paleovert.