Foto: Arquivo Pessoal
Uma família de Pelotas, tem vivido dias de angústia devido a falta de oferta de uma endoscopia traquial nos hospitais da cidade. Isto pois a pequena Ana Clara, de dois meses, internada em um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital São Francisco de Paula (HUSFP), depende especificamente deste exame para o diagnóstico do problema de saúde que faz com que a bebê esteja internada há mais de um mês. Apesar de uma decisão da justiça apontar que o Estado deva agir com urgência quanto a transferência, o prazo será excedido às 13h desta segunda-feira (19) e ainda não foi cumprido.
A história de Ana Clara tomou conta de uma rede social nos últimos dias e as fotos da menina entubada são tocantes. Em contato com O Bairrista, a mãe, Simone Volz, contou um pouco da história da filha. Ana nasceu no dia 12 de junho e a luta da família teve início no dia 17 de julho, com a percepção de um esforço respiratório. “Fomos ao PS aqui de Pelotas, pediram somente para fazer lavagem nasal e fomos pra casa. Na segunda, dia 15, fomos na UPA onde constataram uma bronquiolite, fizeram resgate e mandaram ela para casa. Na terça-feira ela piorou, fazendo com que nós voltássemos para o PS onde ela ficou ate quarta quando conseguiram o leito no hospital da FAU. Lá ela não ficou nem uma hora e já solicitaram leito na UTI pediátrica do São Francisco de Paula“, conta Simone.
Ana foi internada com um quadro de bronquiolite aguda. Inicialmente, a pequena passou cinco dias entubada, até que foi extubada, entretanto, após dois dias foi necessário voltar para o aparelho por um novo período, desta vez de três dias. Durante o processo a bebê ainda apresentou um quadro de anemia, queda de plaquetas e infecção hospitalar.
Simone conta que embora o tratamento, Clara segue apresentando esforço respiratório. Diante do quadro, os profissionais do hospital solicitaram a avaliação de um otorrinolaringologista que constatou uma laringomalácia leve. Segundo o laudo enviado pela mãe, Ana apresenta um ‘quadro de estridor bifásico, com esforço respiratório importante e risco alto de evolução para insuficiência respiratória’. Ainda segundo o documento, consta que há ‘hipótese diagnóstica de estenose subglótica ou traqueomalácea, que podem piorar com o passar do tempo, piorando também prognóstico da paciente e aumentando o tempo em UTI”.
Tendo em vista o diagnóstico, os profissionais optaram em pedir a transferência da bebê para um hospital que conte com o equipamento necessário para a realização de um exame chamado endoscopia traqueal, visando investigar mais a fundo o que está causando tal condição.
O problema é que tal procedimento não é realizado em Pelotas, uma vez que a rede de saúde da cidade não conta com a aparelhagem necessária. Foi então que começou a principal angústia, da incerteza, uma vez que Clara precisa de uma transferência urgente para outro município. “A princípio qualquer hospital que tenha o equipamento, mas o mais provável seria Porto Alegre“, explica Simone.
Tendo em vista a demora, a família entrou com pedido junto ao Ministério Público, que, às 19 horas deste domingo (18), por meio do Tribuna de Justiça do Rio Grande do Sul, recebeu decisão favorável, ordenando que o Estado disponibilizasse um leito em até 18 horas. Segundo a decisão, caso não haja leito na rede pública, o Estado deverá obter leite na rede particular e arcar com os custos. O prazo, porém, será atingido às 13h desta segunda-feira e ainda não foi cumprido.
O Bairrista entrou em contato com a assessoria da Secretaria Estadual de Saúde, com questionamento sobre quando ocorrerá a transferência. A pasta afirmou que “em respeito à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e a todos os pacientes que aguardam por atendimento e seguem o devido processo técnico de regulação, não pode fornecer dados sobre casos específicos. Pacientes que necessitam de atendimento especializado são regulados conforme avaliação técnica de profissionais de saúde do município de origem e da Central de Regulação. É esta avaliação que determina as prioridades, a situação de saúde e as condições de transporte do paciente, entre outros critérios. Dessa forma, é possível definir o momento adequado e seguro para a realização de procedimentos e transferência de pacientes“.