Foto: José Vítor Silva/Secom
Um ato pacífico em memória de Jaqueline Tedesco realizado na tarde do último sábado (13) reuniu um público expressivo e bastante emocionado no centro do Rio Grande. A ação marcou a passagem dos 120 dias desde que a ex-estudante da FURG perdeu a vida após um incidente durante seu jantar de formatura em um restaurante da cidade.
Empunhando cartazes com dizeres como “Justiça para Jaqueline: um direito, não um pedido”, o grupo de familiares e amigos, com o apoio do Coletivo Indígena da universidade, percorreu algumas das principais ruas do centro histórico. Ao final da passeata, os participantes fixaram cartazes de protesto e balões brancos na fachada do restaurante onde ocorreu a fatalidade.
“Não está sendo nada fácil para mim estar aqui hoje. Minha filha era uma pessoa guerreira, de muitos sonhos, muitos amigos. E os sonhos dela foram embora“, disse a mãe, Joceli Morais, que deslocou-se de Garibaldi para comparecer ao ato. “Nós lutamos muito, com muita dificuldade, para que ela pudesse chegar à universidade. Não estamos aqui cobrando nada a que não teríamos direito“.
“Fiquei estarrecido quando aconteceu a tragédia, foi uma situação muito dura para todos nós“, disse o professor aposentado do curso de Psicologia da FURG, Alfredo Gentini. Ele participou do trabalho de conclusão de curso de Jaqueline, a convite dela. “Jaqueline era jovem, indígena, advogada e decidiu colocar sua profissão a serviço do seu povo. Todos que estamos aqui, indígenas ou brancos, estamos unidos em nossa luta comum para que exista realmente uma justiça, profunda e reparadora“.
Bacharela em Direito pela FURG, Jaqueline Tedesco era estudante indígena de origens kaingang e guarani. Ela contribuiu com o seu curso de graduação e a universidade, dedicando-se ao Coletivo Indígena da FURG, sendo liderança da Casa de Estudante (CEU-FURG), bolsista do PET Popular, integrante do Diretório Central de Estudante (DCE) e do Diretório Acadêmico Rui Barbosa (Darb), do curso de Direito.
Em março deste ano, após outorgar grau em Direito nas dependências do Cidec-Sul, Jaqueline sofreu queimaduras de 3º grau ao comemorar sua formatura junto de seus familiares em um estabelecimento local, devido a uma explosão de líquidos inflamáveis. Ela acabou falecendo seis dias depois, no hospital.
Em junho, a Polícia Civil indiciou três pessoas pela morte da jovem, por crime de homicídio culposo, quando não há intenção de matar. O inquérito policial foi remetido ao Ministério Público (MP), que decidirá se acusa ou não os donos do restaurante e uma funcionária na Justiça. Caso faça isso e o Judiciário aceite a denúncia, os três começam efetivamente a ser julgados pelo crime.