Foto: Mauricio Tonetto/Palácio Piratini
O Governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, concedeu uma entrevista exclusiva para o jornal Folha de São Paulo e abordou as críticas sobre a preparação do estado para as enchentes devastadoras, admitindo que estudos previam o aumento no nível das chuvas, mas destacou que a falta de ações preventivas mais intensas se deu por múltiplas demandas governamentais, incluindo uma crise fiscal significativa.
Leite explicou que, ao assumir o governo, o estado enfrentava sérias dificuldades financeiras, impedindo o pagamento de salários e compromissos com hospitais e municípios.
“A agenda que se impunha era especialmente aquela vinculada ao restabelecimento da capacidade fiscal do estado“, afirmou o governador. Segundo ele, esta priorização fiscal era essencial para manter as operações básicas e preparar o estado para enfrentar crises.
Quanto às alterações em cerca de 480 normas ambientais sancionadas por ele em 2020, o governador negou que tivessem contribuído para a crise climática atual, argumentando que “simplesmente burocratizar e dificultar licenças não é proteger o meio ambiente“.
Sobre a nomeação de Paulo Pimenta pelo presidente Lula (PT) para o Ministério de Apoio à Reconstrução do RS, Leite reconheceu a importância do apoio federal, mas enfatizou que o protagonismo na gestão da crise deve ser do governo estadual.
Durante a entrevista, realizada no Palácio Piratini, o governador também refletiu sobre a recepção de alertas climáticos. Ele reconheceu que, embora muitos alertas anteriores não tenham se concretizado, a situação atual exige uma nova postura do governo e da sociedade frente a esses avisos, enfatizando a necessidade de adaptação e resiliência diante dos desafios climáticos emergentes.
Veja as principais falas de Eduardo Leite durante a entrevista:
Estudos já apontavam a possibilidade de aumento significativo nas chuvas no RS. O governo do estado se preparou mal para lidar com as enchentes?
Bom, você tem esses estudos, eles de alguma forma alertam, mas o governo também vive outras pautas e agendas. A gente entra aqui no governo e o estado estava sem conseguir pagar salário, sem conseguir pagar hospitais, sem conseguir pagar os municípios.
A agenda que se impunha ao estado era aquela especialmente aquela vinculada ao restabelecimento da capacidade fiscal do estado para poder trabalhar nas pautas básicas de prestação de serviços à sociedade gaúcha.
Cumprimos essa tarefa, porque agora estamos diante dessa crise enorme com capacidade fiscal para enfrentá-la. Então, alertas que estejam sendo feitos são ouvidos, mas eles se deparam com uma situação agora absurdamente crítica que naturalmente vai dar para eles um outro grau de importância, não apenas aos olhos do governo, mas da sociedade como um todo.
Esses alertas deveriam ter sido mais ouvidos?
Muitos alertas se revelam agora especialmente relevantes. Muitos alertas foram feitos e não se consumaram também. Então, naturalmente, vamos estruturar o poder público para que a gente possa receber esses alertas, tentar depurar o que é crítico, o que não é tão assim. Não é o governante de plantão sozinho que vai conseguir fazer isso.
Até por isso o Comitê Científico de Adaptação e Resiliência, para nos ajudar a entender. Já recebi alertas que não se revelaram. Agora mesmo na crise, fizemos alerta numa determinada quarta-feira que teriam vendavais e temporais e não se confirmou. Então, eventualmente, os alertas também não se confirmam.
A gente está buscando fazer a adaptação e essa situação crítica que a gente está enfrentando agora impõe ao governo e à sociedade uma nova postura, sem dúvida nenhuma, diante dos alertas.
Aliados do senhor criticaram a indicação de Paulo Pimenta para o Ministério de Apoio à Reconstrução do RS. A escolha do presidente Lula pode politizar a crise por ser um potencial candidato ao governo em 2026?
A questão política em todo esse processo é o que mais me preocupa desde o início dele. Porque a dimensão que tem essa tragédia exige uma coordenação de esforços, um alinhamento entre forças políticas, empresariais, sociedade civil, que é especialmente difícil nos tempos atuais, de polarização, de disputas, de divisões, de redes sociais com opiniões para todos os lados, com força e virulência tentando destruir reputações. Mas é o esforço pelo qual, entendo, a gente deve canalizar aqui as nossas energias.
Naturalmente, o governo do estado tem um protagonismo que não é por vaidade ou interesse pessoal do governador, é pelo que o voto popular conferiu.
Nós somos uma federação, e uma federação composta por estados onde existem governos constituídos pelo voto popular para liderar um processo, não para mandar simplesmente. Não é para ser do jeito que eu quero, porque eu ganhei uma eleição, é para liderar o processo reunindo as forças da sociedade.
Cabe ao governo estadual liderar o processo?
Por uma decisão que a sociedade tomou, pelo voto popular. Então, o que o ministério que o presidente Lula criou tem no nome, e entendo deva ser o que orienta a sua ação: é uma secretaria extraordinária para apoio à reconstrução. Todo apoio é bem-vindo. O apoio do setor privado, o apoio dos voluntários, o apoio das doações, o apoio da sociedade civil de diversas formas, o apoio do governo federal é bastante importante nesse processo.
O meu papel como governador não é o de fazer análises políticas, é de resolver o problema. Para resolver o problema, precisamos juntar as forças de todos, inclusive a do governo federal. O presidente apresentou o seu preposto para esta missão de apoiar a reconstrução, vamos trabalhar com ele, vamos juntar as forças para poder atender a população.