Grupo com cinco gaúchos conquista segundo lugar em desafio que busca revelar textos de papiro carbonizado há milênios

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Uma descoberta incrível envolvendo inteligência artificial, um papiro carbonizado e um grupo de brasileiros e estrangeiros (dentre eles diversos gaúchos), tem deixado muitas pessoas entusiasmadas em como a tecnologia é capaz de ajudar a desvendar mistérios do passado.

Essa história começa há cerca de dez meses, quando Nathaniel Dourif Friedman, um executivo e investidor de tecnologia americano, lançou o Desafio do Vesúvio, com foco em resolver o antigo problema dos Papiros de Herculano, uma biblioteca de pergaminhos que foi praticamente destruída pela erupção do Monte Vesúvio em 79 dC. O grupo que chegasse a meios de ler um dos papiros levaria a quantia de US$ 700.000.

Com esse foco, um grupo formado por oito brasileiros, sendo a maioria deles natural do Rio Grande do Sul, e um cidadão dos EUA entraram no desafio e conquistaram o segundo lugar na disputa que busca mostrar um lado positivo dos avanços em Inteligência Artificial. Um dos integrantes conversou com O Bairrista, confira.

Entenda

O caso começa no ano de 79 d.C. quando o vulcão Vesúvio entrou em erupção e enterrou uma vila da cidade Herculano (hoje, no sul da Itália), essa que possivelmente pertenceu ao padrasto de Júlio César. Posteriormente, em 1750, um fazendeiro reencontrou o local e, após escavações deu de cara com estátuas, pinturas e centenas de pergaminhos carbonizados.

O desafio porém só aumentaria, afinal, desenrolar fisicamente os pergaminhos se mostrou uma tarefa praticamente impossível, visto que eles foram danificados severamente em todas as tentativas. Então, um procedimento não invasivo para lê-los se mostrou necessário.

Em 2015, o professor Dr. Brent Seales mostrou que era possível desenrolar e reconstruir textos de pergaminhos por meio de uma tomografia por Raios-X. Essa foi a base que tornou possível a leitura dos papiros em 2023.

O processo em questão possui três etapas principais: escanear os pergaminhos, fazendo uma reconstrução digital a partir de uma tomografia computadorizada; desenrolar e planificar digitalmente; e, por fim, fazer a detecção de tinta, onde uma Inteligência Artificial aprende a detectar pequenos sinais nessas “folhas de papel”, e, aos poucos, estes formam as letras que compõem os textos.

Motivados a desvendar os textos perdidos, foi criado então o Vesuvius Challenge. “Alguns meses depois do desafio ser lançado, Casey Handmer descobriu sinais claros de tinta; ele os chamou de “crackles”. Isso mudou tudo, pois baseado nos crackles, foi possível treinar um modelo IA para identificá-los. Com isso, encontraram a primeira palavra até então: ΠΟΡΦΥΡΑϹ (porphyras), que significa “purple” em inglês“, explica Elian, um dos participantes do grupo composto por brasileiros.

Este então foi o pontapé inicial para o início do trabalho que resultaria no segundo lugar do desafio. “O trabalho deles foi a inspiração para começarmos a treinar nossos próprios modelos e buscar textos ainda não revelados. Com essa base, fomos descobrindo novas letras e aprimorando nossos modelos cada vez mais num processo interativo. O resultado disso é que, até agora, foi possível ler aproximadamente 5% de um pergaminho“, conta Elian. De acordo com os papirologistas, o texto do papiro em questão trata-se de uma obra inédita de filosofia Epicurista e tem “prazer” como tema principal, relacionando-o à disponibilidade de bens.

O próximo objetivo é maior e mais desafiador. “Em 2024, nosso objetivo é passar da leitura de algumas passagens de texto para pergaminhos inteiros, e estamos anunciando um novo grande prêmio de US$ 100.000 para a primeira equipe que conseguir ler pelo menos 90% de todos os quatro pergaminhos que digitalizamos“, anunciou Nat Friedman nas redes sociais.

Hoje muito se fala da IA como uma adversária a nós humanos, mas, embora o público geral deva ser educado sobre seus malefícios, essa tecnologia traz e trará benefícios enormes a todos, como exemplificado por esse desafio em questão“, finaliza Elian.

O grupo que ficou em segundo é formado pelos gaúchos Elian Dal Prá, Raí Dal Prá e Daniel Franceschini, ambos de Paim Filho, Bruno Kellm, de Erechim, e Marcelo Gris, de Sananduva. Além de Leonardo Scabini, João Vitor Torezan, Odemir Martinez e Sean Johnson, este morador de Wisconsin, nos EUA.