Foto: Reprodução/cbmrsoficial
Moradores do bairro Americana, em Alvorada, região metropolitana de Porto Alegre, compartilham relatos de perdas materiais e situações de ilhamento causados pelo acúmulo de água nas ruas durante as chuvas. Essas histórias se repetem especialmente na área mais afetada pelas cheias do Arroio Feijó.
Luis Carlos de Oliveira, morador da região há mais de 50 anos, recorda que desde sua infância já acordava com os pés dentro d’água devido às enchentes. Marinês Costa, por sua vez, relata ter perdido diversos móveis e eletrodomésticos devido às inundações em sua casa de madeira próxima ao arroio.
“Dentro da minha casa tem duas xícaras, dois pratos, dois copos. Encaixotei tudo o que tenho e vou deixar assim até o verão. Tenho medo de que chova, entre água aqui e eu não consiga tirar tudo a tempo. Foi horrível essa última vez que choveu forte (por conta do ciclone, em junho): por pouco a água não entrou na casa”, afirma a moradora do bairro Americana há 60 anos.
Esses relatos ecoam os dados do AdaptaBrasil, plataforma do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), que reúne informações sobre os riscos das mudanças climáticas no Brasil. Essas informações ganham maior relevância diante do alerta de um novo ciclone extratropical na costa gaúcha nesta semana, embora com menor intensidade do que o anterior.
Alvorada e outros 26 municípios do Rio Grande do Sul são classificados como “risco muito alto” no índice de ameaça de inundações, enxurradas e alagamentos, de acordo com o AdaptaBrasil. A previsão é de que esse cenário se mantenha nas próximas décadas. Outros 32 municípios gaúchos possuem risco “alto” no mesmo índice.
Essa classificação é baseada em características topográficas, geológicas, fatores humanos e informações meteorológicas. Alvorada é o município com maior risco de deslizamentos de terra no estado, seguido por Esteio e Caxias do Sul.
Diante desse contexto, Marcos Caninha, presidente da associação de moradores da Vila Agriter/bairro Americana e vereador suplente de Alvorada, destaca a necessidade de ações efetivas, como a construção de um dique para solucionar os problemas de alagamento na região. Ele ressalta que essa solução não deve depender apenas da prefeitura, mas também dos governos estadual e federal.
“Entra e sai governo, e a promessa do dique (obra que resolveria os problemas de alagamento da região) é sempre feita. Só que nunca houve realmente a execução do projeto. São só ações paliativas. Não vejo uma solução apenas pela prefeitura: isso tem que partir também do governo de Estado e do governo federal”, diz Marcos Caninha
Porto Alegre também é classificada como de alto risco para inundações, enxurradas e alagamentos, sendo a região metropolitana a que concentra o maior número de áreas com alto risco de desastres geohidrológicos, como deslizamentos de terra e inundações causadas pelas chuvas.
Nível de Risco Atual:
Muito Baixo: 178
Baixo: 202
Médio: 58
Alto: 32
Muito Alto: 27
Lista de municípios com risco muito alto
Alegrete,
Alvorada,
Canoas,
Capão do Leão,
Cachoeirinha,
Campo Bom,
Caxias do Sul,
Esteio,
Estrela Velha,
Gravataí,
Lajeado do Bugre,
Nova Santa Rita,
Novo Hamburgo,
Osório,
Passo Fundo,
Pelotas,
Porto Alegre,
Rio Grande,
Santa Maria do Herval,
São José do Norte,
São Leopoldo,
Sapiranga,
Sapucaia do Sul,
Tramandaí,
Uruguaiana,
Venâncio Aires,
Viamão.
“O essencial da plataforma é que ela mostra, a partir do presente, como setores estratégicos vão ser impactados em 2030 e 2050, em cenários pessimistas e otimistas. O foco é olhar mais para frente no contexto de mudanças climáticas e oferecer hoje informações importantes para que municípios e as regiões do Brasil estejam bem preparados para lidar com as mudanças climáticas, explica Márcio Rojas, coordenador-geral de Ciência do Clima do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e um dos responsáveis pela iniciativa.
Essa colaboração é realizada entre o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e a Rede Nacional de Pesquisa e Ensino (RNP). Os dados são compilados a partir de pesquisas de instituições como o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), Agência Nacional de Águas (Ana), Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Como encontrar o município desejado
Para encontrar os municípios desejados e o nível de risco, o usuário deve acessar a página do Adapta Brasil, clicando aqui. Após, deve clicar em “Dados e Impactos” na página inicial na parte superior da tela, acessar a opção, “Riscos relacionados a desastres geo-hidrológicos”, no canto esquerdo da tela e entrar na opção, “inundações, enxurradas e alagamentos”. E então, clicar sobre o município desejado no Mapa disponibilizado na tela e ver o grau de risco apresentado.